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Cafés históricos Majestic e Guarany fecham portas por tempo indeterminado

  • Foto do escritor: Miguel Freitas
    Miguel Freitas
  • 4 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 14 de jan. de 2021

Os dois cafés históricos da Baixa não conseguiram fazer face aos prejuízos causados pelo Covid-19 e não têm data para reabrir. Os trabalhadores estão em lay-off.


Fonte: PÚBLICO

Segundo notícia avançada pelo Jornal de Notícias, o encerramento deve-se aos efeitos do novo coronavírus, às novas regras e restrições e sobretudo a quebra turística, reduzindo a sua atividade 85 a 90%. “Por mais que tivéssemos vontade de manter as portas abertas, não temos turistas nem residentes. A opção de o Governo mandar as pessoas para teletrabalho fez-nos tomar esta decisão.” afirmou o gerente Fernando Barrias ao PÚBLICO.


Em menos de um mês, estes dois cafés emblemáticos do Porto fecharam por tempo indeterminado. O Guarany, na Avenida dos Aliados, encerrou no dia 15 de Novembro. Recentemente, o Majestic, na Rua de Santa Catarina, fechou as portas na tarde do dia 30 de Novembro.


Ambos os estabelecimentos pertencem ao Grupo Barrias e deverão reabrir quando estiverem reunidas todas as condições para tal, mas ainda não existe uma data prevista. Outros espaços do mesmo grupo, também fecharam, ficando mais de 100 pessoas em lay-off.


O espelho do Porto da "Bélle Époque"


A 17 de dezembro de 1921, pela autoria do arquiteto João Queiroz, abriu um café com o nome Elite, situado na rua Santa Catarina, o local mais movimentado da cidade. Representava o Porto da "Bélle Époque" iluminando o passeio com a sua decoração Arte Nova. O dia da inauguração causou furor em todo o Porto que agradou a intelectuais e boémios, mas também às senhoras da melhor sociedade. Entre honras e distinções, o espaço recebeu Gago Coutinho, piloto aviador que tinha acabado de chegar de uma jornada à ilha da Madeira.

Fonte: Majestic

Embora a abertura ao público fosse um sucesso, a denominação atribuída ao local não condizia com o ambiente republicano e burguês dos portuenses. Com referências ao glamour e elite cultural parisiense, o espaço passou a denominar-se Majestic, nome que até hoje perdura. Nos anos 60 do século XX, onde existiu a ausência de manifestações culturais, o café começou a perder o seu esplendor levando a um estado de degradação. Em 31 de Agosto de 1981, é decretado Imóvel de Interesse Público. Dois anos depois, a nova gerência estuda uma forma de devolver o café à cidade.


Reconhecido pela sua beleza, o Café Majestic arrecadou e continua a arrecadar prémios tais como "Prémio Especial de Café Creme" (1999), "Medalha de Prata de Mérito Turístico" (2000), "Medalha de Prata de Mérito Municipal - Porto" (2006), "Certificado do Prémio Mercúrio - O melhor do Comércio na área das empresas na categoria Lojas com História" (2011) e "Medalha Municipal Mérito - Grau Ouro" (2011), classificado pelo site cityguides como o sexto café mais belo do mundo e o Certificado de Excelência da TripAdvisor.


As raízes brasileiras na Avenida dos Aliados


A 29 de Janeiro de 1933, quando se inaugurou o Café Guarany, o arquiteto Rogério de Azevedo foi o autor da remodelação que contou com a decoração do escultor Henrique Moreira que executou o alto-relevo em mármore do Índio, sendo que, o nome faz alusão ao Brasil do século XX como primeiro produtor mundial de café. Na década de 1930 assistiu-se a um surgimento de cafés no Porto, alguns na Avenida dos Aliados como cafés dirigidos a adeptos desportivos ou cafés que funcionavam como cafés-restaurantes e outros espalhados por zonas emblemáticas da cidade. Com o objetivo de renovar um dos espaços mais movimentos da cidade, inaugurou-se o Café Guarany.

Fonte: Inside Porto

A localização deste estabelecimento na Avenida dos Aliados constitui um fator determinante na definição do seu género de frequência: uma clientela que se mistura entre intelectuais e homens de negócios. Os anos passaram, e passados mais de 50 anos desde a abertura, era necessário uma renovação para voltar a ganhar a confiança das gentes do Porto. Em 1994, a atual gerência, decidiu abraçar o projeto e incutir-lhe o mesmo ideal: recuperação com qualidade e devolver os locais históricos do Porto.


Na recuperação foram postos em destaque dois painéis da pintora Graça Morais, "Os Senhores da Amazónia" que retrata a maneira como a tribo Guarany organizava o seu dia-a-dia, os instrumentos que utilizavam, os seus desejos e angústia. Estas pinturas quiseram dar uma nova vida ao espaço que pretendia cada vez mais ser um espaço aberto à cultura.


O futuro incerto


Com a pandemia a afetar todos os estabelecimentos que viviam de turistas, Fernando Bairra afirmou à RTP que "antes tínhamos clientes a fazer fila para entrar, mas com a redução nunca houve falta de mesa para as pessoas nos visitarem. Afinal, trabalhamos no mínimo dos mínimos", que está esperançado que a vacina resolva este problema: "Temos de confiar no futuro. Da mesma forma que o vírus apareceu, irá desaparecer."

Além disso, acrescenta que "é uma situação que se tem vindo a degradar. Os colegas da restauração entraram em desespero, também ficamos tristes por eles e acabamos também nós por ter de encerrar. Acho que as pessoas foram apanhadas de surpresa, estão em estado de choque, não sabiam que vinha uma segunda vaga assim tão repentina”, explica o gerente ao Observador.

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