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  • Foto do escritorPedro Marques dos Santos

Eleições Americanas 2020: Tudo em suspenso após noite eleitoral

Donald Trump declara vitória antecipada e exige que a contagem dos votos seja parada. Biden pede paciência. Candidato democrata lidera, mas tem de esperar pelos resultados finais nos swing-states.

Fonte: Time

Com o comércio local já preparado para possíveis distúrbios advindos dos resultados eleitorais, os Estados Unidos da América (EUA), cada vez mais divididos em duas posições extremadas e antagónicas, regressaram, esta terça-feira, “a primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira do mês de novembro”, como dita a lei, às urnas para determinarem sobre quem vai recair a difícil tarefa de liderar uma das maiores potências mundiais durante os próximos quatro anos.


Entre as consequências da pandemia, a ameaça do atual Presidente em não reconhecer os resultados e uma sociedade à beira da ebulição, com manifestações e tumultos dos dois lados da barricada, as eleições de 2020, encaradas como uma das mais importantes da história do país, viram os norte-americanos escolher entre a reeleição de Donald Trump, o 45º Presidente dos EUA, ou a eleição de Joe Biden, o candidato do Partido Democrata e vice-presidente entre 2009 e 2017, durante os mandatos de Barack Obama.

Donald Trump vs Joe Biden / Fonte: Getty Images

Para além da Presidência e Vice-Presidência – Mike Pence e Kamala Harris são os parceiros de candidatura de Trump e Biden, respetivamente -, foram também a votos 436 lugares na Câmara dos Representantes, 35 no Senado, 13 governadores de estados e territórios, entre outros cargos oficiais.


Contudo, já com as urnas fechadas de forma oficial há várias horas, o grande vencedor da noite, que, entretanto, se tornou dia, permanece incerto. Biden está na frente, mas disputas renhidas em estados-chave podem fazer pender a balança para o lado de Trump. Ao longo deste texto, explicamos o porquê da demora nos resultados, o sistema eleitoral nos Estados Unidos e as suas particularidades e o que ainda está por decidir.


Colégio Eleitoral e o sistema Winner Takes All


Ao contrário do que sucede em Portugal, o vencedor da eleição não é determinado pelo número de votos que cada candidato somou – o denominado “voto popular” -, mas sim pelo Colégio Eleitoral, composto por 538 delegados referentes aos vários estados do país.


Para além disso, o número de delegados a que cada estado tem direito difere de sobremaneira. Por exemplo, o Montana garante apenas três delegados, enquanto a Califórnia fornece 55, o que, de forma sucinta, significa que nem todos os estados têm a mesma importância ou valor.



Fonte: National Conference of State Legislators

Adicionalmente, o sistema “winner takes it all”, em que o vencedor das eleições num estado recebe todos os lugares desse estado no Colégio Eleitoral, faz com que a diferença percentual não tenha, na prática, qualquer influência no número de delegados garantidos. Vencer por 51-49% ou por 75-25% garante exatamente o mesmo número de delegados no final das contas e por aqui se explica como é possível, nos Estados Unidos, ganhar uma eleição conseguindo menos votos a nível nacional.


A Importância dos “Swing States”


Devido ao regime do Colégio Eleitoral, ganham especial importância os estados onde a disputa entre republicanos e democratas é mais acessa. Denominados de “swing states” (estados oscilantes), é por aqui que, por norma, se decidem as eleições, uma vez que se tratam de estados que, como o nome indica, oscilam entre o apoio democrata e republicano.


Assim se explica que os focos da campanha passem muito por estes estados-chave. Não é por acaso que Carolina do Norte, Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Florida, Ohio e Geórgia tenham sido os estados escolhidos pelos dois candidatos para dedicarem os últimos dias das campanhas, ao invés de territórios em que dificilmente vão acontecer surpresas, como Califórnia (democrata) ou Utah (republicano).


Noite eleitoral sem vencedor declarado. Sondagens novamente enganadoras


Apesar das mais otimistas sondagens terem chegado a apontar uma vitória fácil de Biden, isto é, com a possibilidade de o vencedor ser conhecido ainda durante a noite eleitoral, isso não se verificou, já que Donald Trump voltou a contrariar as previsões e a vencer estados fundamentais para alimentar esperanças de uma reeleição.


Motivados pela pandemia, os eleitores norte-americanos acederam em massa ao voto pelo correio e ao voto presencial antecipado – o próprio Trump votou a 24 de outubro -, o que vai prolongar a contagem de votos, uma vez que em alguns estados estes votos vão ser contabilizados já nos dias seguintes ao fecho das urnas.


Até segunda-feira, já mais 98 milhões de pessoas tinha votado, um valor que a 70% do número total de votantes registados em 2016. Como este número fazia antever, a participação nesta eleição atingiu valores históricos. Com ainda com muitos votos por contabilizar, Donald Trump já soma mais votos - mais de 66 milhões - do que aqueles que Hillary Clinton, a candidata mais votada em 2016, conseguiu nas últimas eleições (65.853.625). Por sua vez, Joe Biden superou o registo de Obama em 2008 e tornou-se no candidato com mais votos de sempre. Atualmente, a contagem vai nos 69,7 milhões de votos, por comparação com os 69,5 de Obama há doze anos.


Ainda que as sondagens apontassem a vitória do candidato democrata em estados importantes, como a Florida ou Ohio, o atual presidente voltou a ser o favorito dos eleitores. Em sentido inverso, Biden tem a vitória praticamente assegurada no Arizona e no segundo círculo eleitoral do Nebraska, que tinham votado Trump em 2016. Por sua vez, o Texas permanece republicano.


Ainda em aberto estão a Geórgia, que deve cair, ainda que de forma renhida, para Trump, o Michigan liderado à justa por Biden, Wisconsin que terá sido ganho pelo democrata, mas por uma margem que permitirá pedidos de recontagem dos votos, e a Pensilvânia, onde o presidente lidera de forma confortável, embora com milhões de votos por correio, provenientes na sua maioria de áreas democratas, à espera de serem contabilizados. Todos estes estados foram ganhos pelo republicano em 2016.


Ficam a faltar ainda o Maine, que deve manter os 3 delegados democratas e 1 republicano, e o Nevada, onde Biden tem uma pequena vantagem, mas cujos resultados finais só vão chegar amanhã. O atual presidente levou a melhor sobre Hillary Clinton em 2016 neste estado. Na Carolina do Norte quem lidera é Trump.

A confirmarem-se as vitórias em Arizona (11 delegados), Michigan (16), Wisconsin (10), Nevada (6), Joe Biden superaria os 270 delegados e seria eleito o 46º Presidente dos Estados Unidos da América, mas só nos próximos dias é que haverá confirmações. Se acontecer, será apenas a quinta vez na história do país que um Presidente não é eleito para segundo mandato desde 1900.


Neste momento, são apontados já 227 delegados a Joe Biden à custa de Vermont (3), Massachusetts (11), Rhode Island (4), Connecticut (7), New Jersey, (14), Delaware (3), Maryland (10), Virginia (13), Illinois (20), Nova México (5), Nova Iorque (29), Distrito de Colombia (3), Colorado: (9), New Hampshire (4), Califórnia: (5), Oregon (7), Washington (12), Hawaii (4), Minnesota (10), Nebraska (1) e Maine (3).


Já Trump conta com 213 delegados por via de West Virginia (5), Kentucky (8), Tennessee (11), Mississipi (6), Alabama (9), Carolina do Sul (9), Oklahoma (7), Arkansas (6), Indiana (11), Dakota do Norte (3), Dakota do Sul (3), Wyoming (3), Nebraska (4), Louisiana (8), Kansas (6), Missouri (10), Idaho (4), Utah (6), Ohio (18), Montana (3), Iowa (6), Flórida (29) e Texas (38).


Nas contas para o Senado, a maioria deverá permanecer republicana. A esta hora, o partido republicano tem 47 senadores contra os 46 dos democratas. Destaque para a eleição de Sarah McBride, de 30 anos, que se tornou na primeira senadora transgénero. Na Câmara dos Representantes, os democratas levam a melhor com 181 lugares conquistados face aos 171 dos republicanos.


Sarah McBride, senadora eleita por Delaware / Fonte: Associated Press

Trump "canta" vitória antecipada, Biden pede “paciência”


No seu discurso durante a madrugada, a partir da Casa Branca, Donald Trump começou por agradecer o apoio dos que votaram em si antes de partir para acusações em relação ao “grupo de pessoas” que lhe está a “tentar tirar a vitória”.


Para além disso, o atual presidente dos Estados Unidos da América declarou ainda vitória em vários estados, nos quais tal resultado ainda não se confirmou, entre os quais Geórgia, Arizona e a Pensilvânia.


Por fim, o candidato republicano avançou novamente com a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal para travar a contagem dos votos por correio que apenas começaram a chegar após o fecho das urnas.


“Isto é uma fraude ao povo americano. Nós ganhámos esta eleição. Agora vamos assegurar a integridade do povo. E vamos para o Supremo, queremos que todos os votos parem. Não queremos que descubram votos. Para mim é uma fraude. Para mim, já ganhámos. Quero agradecer a todos”, afirmou.

Em Delaware, Joe Biden, ainda antes do discurso de Trump, mostrou-se confiante na vitória, surpreendido por estar a lutar pela vitória na Geórgia e afirmou ter recebido informações positivas relativamente a um possível triunfo na Pensilvânia.


O candidato democrata agradeceu também a "paciência louvável" dos seus apoiantes e alertou para a possibilidade dos resultados finais poderam ser conhecidas apenas esta quarta-feira, ou mais tarde, devido aos votos pelos correios e antecipados que tornaram o processo mais lento. Salientou ainda que não cabe ao Presidente Trump” nem a ele “declarar quem ganhou” e que espera que a corrida só acabe "quando todos os votos estiverem contados.

Já em comunicado, a campanha de Biden escreveu, sobre a ameaça de Trump de levar as decisões para o Supremo Tribunal, que "nunca, na nossa história, um presidente dos EUA tentou roubar aos americanos a sua voz numa eleição nacional. Antes das eleições, Trump tentou de diversas maneiras impedir que os boletins de votos fossem contados. Agora, está a sugerir que nem após as eleições eles podem ser contados”. Garantiu também ter "equipas jurídicas a postos para resistir a essa tentativa".


Entretanto, com Wisconsin a escapar para Joe Biden, segundo a Associated Press, a equipa de campanha de Donald Trump já fez saber que vai avançar com ação judicial no estado e um pedido de recontagem dos votos.


Com todos estes desenvolvimentos, as Presidênciais Americanas de 2020 ainda estão longe de estar terminadas.

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