top of page

João Carvalho: “Vamos chegar ao fim do ano com um défice orçamental na ordem dos 700 mil euros”

  • Foto do escritor: Miguel Marques Ribeiro
    Miguel Marques Ribeiro
  • 1 de out. de 2020
  • 4 min de leitura

A quebra abrupta de receitas próprias dos SASUP coloca um enorme desafio orçamental ao organismo. Em entrevista ao JPN, o diretor João Carvalho detalha as medidas adotadas em cantinas e residências e explica por que razão a pandemia gerou um “buraco orçamental” nas contas.


João Carvalho, Director do Sistema de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP). Foto: MMR/ Linha Contínua


O diretor dos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto, João Carvalho, fala de uma “situação dramática” nas contas dos SASUP gerada pela pandemia. As receitas previstas no orçamento deste ano devem ter uma quebra de 80%. Isto “se tudo correr bem”, caso contrário o problema poderá agravar-se ainda mais. O responsável garante que os serviços vão continuar em funcionamento até ao final do ano, sempre em conformidade com as decisões da Direção-Geral da Saúde (DGS) e da Universidade do Porto (UP), mas admite ter de recorrer a saldos de gerência para tapar o “buraco orçamental”. “É seguramente a situação mais crítica que já vivi como dirigente dos serviços”, sintetiza.


JPN – O Dr. João Carvalho regressou aos SASUP em 2018, depois de um pequeno período de interrupção. Nessa altura não estaria a pensar que iria ter um desafio pela frente como aquele que enfrentaram os SASUP durante este ano.

JC – Desta natureza não, nunca imaginei. Aliás, dificilmente se imaginaria uma situação desta natureza. Eu conheço muito bem os serviços, dirigi-os durante um período ininterrupto de 27 anos. Tive um interregno de quatro anos, mas mantive-me sempre interessado nestes assuntos. Nunca imaginaria que chegássemos a esta altura com estas contingências todas de funcionamento que temos e que não são fáceis de ultrapassar, mas que, estou convicto, com resiliência, aproveitando todas as boas-vontades, acho que vamos conseguir ultrapassar.


JPN – Com a pandemia há menos receitas geradas pelas valências que são geridas pelos SASUP. Já há uma estimativa de quanto será o valor dessa diminuição?

JC – Sim, temos uma estimativa. A situação é dramática. Do ponto de vista económico, estamos perfeitamente desequilibrados, na medida em que o orçamento dos serviços com origem nas transferências do Orçamento de Estado cobre apenas os custos com pessoal. Os SASUP, mercê de medidas que entretanto foram tomadas, relacionadas com a gestão dos serviços de alimentação, garante apenas 30% da alimentação em gestão direta. 70% das refeições servidas são feitas em regime de concessão, através da prestação de serviços de refeições confecionadas. Não temos um custo fixo ou um quadro de pessoal alocado a esta atividade muito significativo, pelo que esta quebra de receita não nos atrapalhou muito, porque as verbas que vêm diretamente do Orçamento de Estado continuam a ser suficientes para pagar salários.


JPN – Não há postos de trabalho em risco?

JC – Não, não há postos de trabalho em risco, mas tudo o resto está em risco. Tudo o resto da despesa corrente está risco: o pagamento da água, da eletricidade, do gás, tudo o que são custos de funcionamento estão suportados na receita própria e a receita própria neste momento está quase reduzida a zero. Porque as cantinas, que são a nossa principal fonte de receita, estiveram fechadas este tempo todo. O alojamento esteve reduzido a um terço da sua capacidade. As receitas próprias neste momento não cobrem os custos de funcionamento.


JPN – Estamos a falar então de uma diminuição de quanto?

JC – Na ordem dos 80%. Vamos chegar ao final do ano com um buraco orçamental que teremos que cobrir, eventualmente através do recurso a saldos de gerência.


JPN – Quanto é que isso é, 80%?

JC – Vamos chegar ao fim do ano com um défice orçamental na ordem dos 700 mil euros. Isto correndo bem estes últimos três meses: se retomarmos a atividade da alimentação na percentagem que estamos a contar e se as residências encherem, caso contrário esse défice poderá ser superior.



João Carvalho, Director do Sistema de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP). Foto: MMR/ Linha Contínua


JPN – Isso pode afetar a atividade dos SASUP no futuro?

JC – Neste momento, não equacionamos esse cenário. Confiamos que a Reitoria nos valha caso venha a ser necessário reforçarmos o orçamento para pagar os custos de funcionamento. De resto, enquanto tivermos saldos de gerência iremos mobilizá-los para fazer face ao normal funcionamento dos serviços. No próximo ano, se não houver de facto uma alteração do estado que vivemos neste momento a situação vai tornar-se complicada. Vai ser muito difícil conseguirmos sobreviver com o orçamento que temos atribuído.


JPN – Esta é a pior situação que já viveu enquanto diretor do SASUP?

JC –É seguramente a situação mais crítica que já vivi como dirigente dos serviços. Ao longo destes 40 anos que tenho de serviço tivemos momentos complicados, difíceis, mas com maior grau de previsibilidade relativamente ao que iria acontecer ou às medidas que poderíamos vir a tomar. Neste momento, as coisas são muito imprevisíveis. Agora é assim, amanhã poderá ser de outra maneira. Penso que neste momento estamos melhor providos de modo a poder ultrapassar estes problemas, sem grandes impactos. Recordo-me que no início da minha atividade tínhamos cantinas a funcionar em vãos de escada, tínhamos unidades de alojamento muito precárias e com pouca capacidade de oferta face à procura.


JPN – É precisamente nestas situações de crise que a atividade dos Serviços Sociais é mais determinante. Há alguma medida que queira destacar das que estão em vigor ou que tenha sido posta em prática nos últimos meses?

JC – Foi muito importante o Fundo de Emergência que a Universidade criou, porque tínhamos estudantes muito aflitos para pagar a renda da casa e que se não a pagassem o senhorio certamente os iria por fora do alojamento, portanto, essa foi uma medida importantíssima, a mais importante que se criou no âmbito da pandemia.

Σχόλια


bottom of page