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  • Foto do escritorPedro Marques dos Santos

Nem só de títulos se faz o Melhor de Sempre


Fonte: Tennis World USA

É a discussão que domina o mundo do Ténis há já vários anos. Novak Djokovic, Rafael Nadal ou Roger Federer: Afinal, qual destes três monstros da modalidade merece ficar imortalizado na história do desporto como o Melhor de Sempre? A resposta politicamente correta é que todos eles fizeram mais do que suficiente para receber a distinção, mas isso não impede que a cada novo Grand Slam adicionado ao currículo e a cada novo recorde, a discussão volte em força à agenda mediática.


Com carreiras impressionantes e números estratosféricos, é francamente impossível encontrar uma resposta definitiva para esta pergunta, uma vez que a conclusão final varia consoante os critérios aplicados e, claro está, as preferências pessoais de cada um. Esse é, porventura, o maior entrave a uma discussão mais objetiva e a uma aceitação mais inquestionável de qualquer um destes três nomes como o Rei da modalidade. São três carreiras, personalidades e estilos de jogo completamente distintos, cujas comparações meramente objetivas, assentes em números e títulos, não contam a história toda.


Embora os recordes lhe comecem lentamente a fugir, Roger Federer parece, ainda assim, ser a resposta mais consensual entre os apaixonados do desporto. Não apenas por ter, discutivelmente, o estilo de jogo mais apelativo do trio e por tantas vezes dar a sensação de que todas as pancadas lhe saem com a maior das naturalidades e simplicidade graças ao seu talento inato, mas também pela sua incrível longevidade


Atualmente com 39 anos, e depois de um ano completamente perdido devido a lesão e à pandemia, é por demais impressionante a forma como o suíço continua a bater-se com os melhores, a ganhar torneios e a competir ao mais alto nível numa idade em que a maioria dos históricos do Ténis já tinham deixado de jogar. Ficam dúvidas sobre o quanto mais Federer teria sido capaz de alcançar se não tivesse sido obrigado a partilhar uma boa parte da carreira com o domínio de Nadal e Djokovic.


Mesmo assim, o mais velho dos “Big Three” mantém-se no topo do registo de Grand Slams ganhos, com 20 títulos, agora na companhia de Nadal, tem o maior número de semanas na posição número um do ranking mundial – embora Djokovic tenha já assegurado matematicamente a ultrapassagem ao suíço no arranque de 2021 -, lidera em conquistas em Wimbledon (8) e nas ATP Finals (6), foi o primeiro tenista a chegar aos 100 encontros ganhos num mesmo torneio do Grand Slam e foi o segundo tenista a vencer por dez vezes o mesmo torneio, depois de Nadal, feito conseguido em Halle.


Junte-se tudo isto a uma personalidade afável e uma atitude irrepreensível durante os encontros, e temos a justificação para a popularidade de Federer e o porquê de, mesmo estando em vias de perder alguns dos seus recordes, que em tempos pareciam impossíveis de alcançar, continuar a ser visto por muitos como o Melhor de Sempre. Afinal, nem só de títulos se faz o Melhor de Sempre. Os números ajudam a contar a história, mas não a contam por inteiro.


Rafael Nadal tem o estatuto indiscutível de “Rei da Terra Batida” e talvez por isso a sua posição nesta discussão não seja dominante. O seu domínio avassalador no pó de tijolo, com 13 Roland Garros, onde tem o registo absolutamente incrível de 100 vitórias e apenas duas derrotas em 16 participações, 11 títulos em Monte Carlo e Barcelona, 9 títulos em Roma e 5 em Madrid, é simplesmente irrepetível. Continua na luta intensa com Djokovic para ser o jogador com mais torneios Masters 1000 ganhos, é o único dos três com uma medalha de ouro olímpica em singulares - tem também o ouro em pares -, mas os seus feitos são, justa ou injustamente, sempre associados à Terra Batida e o facto de nunca ter ganho as ATP Finals é uma lacuna pesada no currículo.


Por sua vez, Novak Djokovic é aquele a que os números dão mais vantagem, apesar de continuar atrasado em títulos do Grand Slam. Vantagem no confronto direto com os dois maiores rivais, recorde de sete títulos no Open da Austrália e o único a ter ganho todos os torneios Masters 1000 no calendário pelo menos uma vez, o sérvio é muito possivelmente o tenista mais dominador que o Ténis alguma vez viu. Contudo, o seu estilo de jogo, que o faz quase parecer uma máquina de bater bolas do fundo do court, e uma personalidade febril colocam-no sempre em desvantagem na comparação com Nadal e Federer. Tal como o suíço, continua à procura do Ouro Olímpico.


Percebe-se, assim, que a atribuição do estatuto de Melhor de Sempre tem tanto de emocional, como de títulos e recordes. Federer tem os números, o talento, a magia e a personalidade que conquista os corações de qualquer um e, talvez por isso, seja a opção mais consensual, mesmo quando Djokovic parece encaminhado para lhe roubar praticamente todos os recordes. Nadal tem o estatuto de “Rei da Terra Batida” e esse nem sequer está aberto a qualquer discussão.


Percebe-se, assim, que a atribuição do estatuto de Melhor de Sempre tem tanto de emocional, como de títulos e recordes. Federer tem os números, o talento, a magia e a personalidade que conquista os corações de qualquer um e, talvez por isso, seja a opção mais consensual, mesmo quando Djokovic parece encaminhado para lhe roubar praticamente todos os recordes. Nadal tem o estatuto de Rei da Terra Batida e esse nem sequer está aberto a qualquer discussão.


Podíamos tentar incluir o mítico Rod Laver nesta discussão, ele que esteve durante tantos anos arredado dos Grand Slams por ter abraçado desde cedo o profissionalismo, mas a verdade é que faz pouco sentido comparar a competitividade atual com a dos tempos em que o australiano colecionava troféus quase por diversão.

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