top of page
  • Foto do escritorJosé Pedro Barbosa

O exemplo deve vir (sempre) de cima


José Sena Goulão/Lusa

Vivemos tempos únicos na nossa sociedade, onde procuramos a melhor forma de lidar com algo que não é visível, não é palpável, não é tangível. Pedem-nos para seguirmos as regras, para inovar no modo como passamos o tempo e para sermos agentes de prevenção da COVID-19. São pedidos naturais, de quem lidera uma nação e dos responsáveis pela organização da sociedade.


Contudo, o ser humano não funciona à base de exigências, simplesmente aprende e vive consoante as ações das pessoas “responsáveis”. Todos sem exceção. As palavras têm muito significado quando os nossos olhos vislumbram atos. Infelizmente, os textos e falas articuladas de quem deve olhar por nós, pelos direitos e deveres de todos, têm valor nulo.


Durante os meses de março, abril e maio, o país estava em confinamento. Muitas pessoas em lay-off, empresas paradas, crianças sem poderem brincar com os seus amigos, jovens que não podiam sair à noite, avôs que não podiam estar com os seus netos. No entanto, no dia 25 de abril, data que representa o movimento da liberdade contra a opressão em Portugal, ficamos em casa a olhar para os nossos “líderes” reunidos, a celebrar um dia importante para todos nós. E este é só um exemplo. Outros aconteceram e continuam a acontecer até aos dias de hoje.


Os comícios e festas dos que são comuns, os jantares dos populistas que dizem basta, as manifestações imprudentes em bloco, os eventos desportivos socialmente exclusivos. Estes são os exemplos que temos. É fácil criticar o João que foi à praia com os amigos, ou a Amélia que viajou com a família para o Gerês e a Aurora que implica com a máscara. Mas não é desta forma que as pessoas devem agir?


Quando ligamos a televisão, vemos um pivô a falar sem máscara, um programa de entretenimento com público, o Primeiro-Ministro e o Presidente da República na bancada de um estádio de futebol. E ficamos tristes. Percebemos que a COVID-19 é seletiva e só escolhe pessoas sem nome, sem estatuto e sem a capacidade financeira dos ricos.


É complicado pedir paciência e exigir a um povo racionalidade e compreensão quando os de "cima" não a têm. Chefes que obrigam trabalhadores a deslocarem-se até aos seus postos de trabalho mesmo quando o teletrabalho é viável, professores que exigem trabalhos presenciais aos alunos quando os mesmos não se podem deslocar. O sistema está completamente invertido.


Ao atravessarmos uma passadeira, dizem para olharmos para os lados. Esquerda, Direita e Centro. Acho que está na altura de olharmos para Cima e de procurarmos os verdadeiros exemplos para a nossa vida. Tem de ser o povo a educar a superioridade, a leccionar os sabichões e a dar lições de moral a quem devia liderar em vez de ordenar. Em vez disso, vamos permanecer ovelhas vão seguem cegamente o seu pastor, independentemente das suas ações. Não devíamos ser assim. Mas deixámos.

13 visualizações0 comentário
bottom of page