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Qualitavida: A segunda linha da frente

A Covid-19 chegou ao Qualitavida no início de Outubro, infetando os seis utentes que ali moram. De então para cá, quem ali vive e trabalha está aprender a conviver diariamente com o vírus.


Cinco semanas depois de ter soado o alarme em Coimbrões, ainda há cinco idosos positivos ao coronavírus. Os utentes são testados todas as semanas, mas só um ultrapassou o quadro clínico desfavorável.


Este é um caso em que o surto teve consequências leves. Os idosos continuam assintomáticos, não havendo registo de internamentos ou de agravamento da situação de saúde, estando a receber todos os cuidados médicos e de enfermagem.


Isso permite que os idosos positivos continuem na instituição, num piso separado daquele em que se encontra o único idoso recuperado até ao momento.


Carga viral dos utentes é «quase não transmissível»


O surto do novo coronavírus aconteceu precisamente no momento em que o Qualitavida estava a mudar de gerência. Daniela Silva, a atual responsável, soube que havia idosos infetados na instituição pela comunicação social, e não esconde que pensou duas vezes antes de tomar a decisão final de avançar.

Semanas depois está satisfeita com a decisão tomada. A situação no lar, ainda que não resolvida, está estabilizada. As autoridades locais (município, centro de saúde e segurança social) têm dado apoio para a implementação de medidas capazes de manter a situação sob controlo.


Há zonas do edifício em que «Os funcionários têm que estar todos equipados, com proteções nos pés, aventais, batas, máscaras FF-P2, que são as mais indicadas para o efeito, toucas, luvas... Temos que tomar todos os cuidados para eles e para nós, também».


A direção da instituição assegura ter recebido a informação da delegação de saúde de Gaia, de que «a carga viral dos utentes positivos é muito baixa, quase não transmissível». Apesar de tudo o poder de contágio existe sempre, mesmo não sendo forte.

Há portanto um perigo associado à convivência com estas pessoas. Daniela Silva admite que chegou a recear que não iria conseguir reunir um grupo de funcionários dispostos a assumir os riscos.

Contudo, Paula, uma das quatro assistentes do lar, diz encarar com normalidade o contacto com os idosos positivos: «Não tenho medo».


A proteção de que dispõem é, no seu entender, suficiente. Não se pode ter medo da aproximação, do toque, caso contrário o idoso, já por si debilitado, devido à doença e ao isolamento compulsivo a que está sujeito, fica ainda mais ansioso, potenciando-se o agravamento do seu estado de saúde física e mental. «É preciso passar-lhes segurança, confiança, porque eles não estão com as famílias».


Covid-19 é só um entre vários problemas


Daniela Silva, a responsável da instituição garante que nenhum doente com Covid-19 vai ficar sem assistência ou ter os cuidados necessários. Esta é a segunda linha da frente, assegura. «E estamos quase na primeira».


As outras doenças para além do covid-19 não devem ser descuradas, assegura a gestora desta unidade residencial para séniores: «há doenças que também são graves e muita gente se esquece disso».


Olhar só para o covid-19 não é opção para quem trabalha nos lares, porque «uma gripe, umas diabetes mais altas, tudo isso pode ser um problema de saúde para uma pessoa que está muito debilitada».


A covid-19 é mais um problema entre muitos outros com os quais os lares têm que conviver diariamente. Assim, o desafio continua assim a ser o mesmo de sempre: garantir ao idoso o máximo de autonomia, apesar de todas as dificuldades que este possa sentir devido à idade avançada. «Tentar que ele seja feliz e viva com conforto e dignidade até ao fim. Esse é que é o maior desafio».

Isolamento gera problemas de saúde


Nesta fase, a paciência é a virtude mais preciosa, mas também a mais difícil de conservar pelos idosos. Eles fazem «a vida normal» e «o facto de estarem infectados não os afeta [porque estão assintomáticos]», assegura Daniela Silva, «mas não se sentem bem».


Têm saudades de ir a casa e receber as visitas da família. «Por eles já tinham ido embora», reforça a responsável do Qualitavida. Toda esta situação potencia o aparecimento de problemas de saúde mental que a instituição se esforça por prevenir e amenizar.


O vírus, contudo veio para ficar, e são muitas as dúvidas de que a vacina possa ser, no caso específico destes idosos, a solução milagrosa que se tem apregoado: «com os problemas de saúde que eles já têm não sei até que ponto é que a poderão tomar». Se assim for, os idosos continuarão a ser a principal vítima desta pandemia.

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