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  • Foto do escritorJosé Pedro Barbosa

Renata Oliveira: “Adorava viver num contexto em que o que interessa é se és competente ou não”.

Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade do Porto, teve sempre o “bichinho” da música desde pequena. Decidiu perseguir um sonho, e dedicou-se exclusivamente à direção musical. É co-fundadora e vice-presidente da European Association of Women Band Conductors (EAWBC) e conta ao Linha Contínua um pouco do seu percurso na música e da génese deste projeto.


Fonte: Renata Oliveira/Facebook

“Foi na banda que nasceu o gosto pela música”


Começou no mundo das bandas filarmónicas, como foi o caso de muitos músicos por este país fora, a aventura de Renata Oliveira na música. Aos 7 anos, na Banda Visconde de Salreu, distrito de Aveiro, começou a aprender Clarinete e a tocar em diversas romarias um pouco pelo Norte de Portugal. Prosseguiu os seus estudos no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian, mas quando estava no último ano do curso Psicologia, tinha concluído os seus estudos musicais e “sentia que faltava alguma coisa para alimentar o bichinho da música”.


“Sempre quis estudar música, mas não queria seguir Clarinete “, diz Renata, que procurava saciar o vazio que estava a sentir na altura. A partir daí, foi surgindo a curiosidade pela direção musical. “Será que consigo fazer isto?”, era a pergunta que Renata Oliveira fazia a si mesma, mas foi neste desafio que entrou a sua vocação e sua paixão. Descreve a direção musical como uma oportunidade de juntar “o conhecimento musical ao contacto humano”.


“De 15 em 15 dias, à quarta-feira, às 5 horas da manhã, toca a acordar, apanhar o primeiro Intercidades do Porto para Lisboa”, diz Renata explicando as viagens que tinha de fazer de modo a aprender Direção Musical em Lisboa com o maestro francês Jean-Marc Burfin, enquanto estagiava no IPO do Porto e preparava a sua tese de mestrado.


Para aprofundar os seus conhecimentos, Renata continuou os seus estudos em Direção, ficando-se primeiro em Direção de Orquestra, onde concluiu o mestrado na Universidade de Aveiro e posteriormente em Direção HaFaBra (banda, fanfarra e brass band) no Conservatório Real de Haia (Holanda). Com as experiências iniciais em orquestras, é nas bandas que dedica toda a sua atenção atual, um mundo que sempre foi o seu.


“Juntar-me à EAWBC foi um grande momento de reflexão para mim”


Com já alguns anos de experiência na área, Renata Oliveira assume, neste momento, o cargo de maestrina na Sociedade Artística Carvalhense (Figueira da Foz) e na Associação Musical Banda de Ourém. Sempre analisou o seu trabalho olhando para a competência. “Soube, à posteriori, que consegui um trabalho e perdi a oportunidade de entrevista para outro, em ambas as situações, por ser mulher”, algo que, na mente da Renata Oliveira, não faz o mínimo de sentido.


Apesar de se sentir uma “privilegiada” e que nunca teve grandes problemas no universo da Direção por ser mulher, foi percebendo que “o mesmo não acontecia em muitos outros casos”. A sua experiência na Holanda e contacto “com outras culturas, outras formas de pensar e outras realidades” fizeram vislumbrar uma realidade distinta daquela que vivia pessoalmente. “Se eu existisse há cinquenta anos, não podia ser maestrina, portanto, não é uma distância assim tão grande. Só porque para mim isto não foi uma questão, não posso fechar os olhos e dizer que somos todos iguais e está tudo bem, porque não, não é”, revela Renata.


A convite da maestrina italiana Antonella Bona, a única maestrina de bandas militares em toda a Europa, aceitou fazer parte da equipa fundadora da European Association of Women Band Conductors.



“Surgiu por essa vontade de criar uma rede, de nós nos conhecermos a nível europeu”, juntamente com a “criação de um espaço seguro e de produção musical” que traga mais “consciencialização” à temática da mulher na função de maestro. Tudo isto começou em março de 2020, via online, durante o período inicial da pandemia e em outubro de 2020 tiveram os primeiros contactos pessoais. A equipa é composta pela supracitada maestrina italiana Antonella Bona, Celine Pellmont, Sara Maganzini, Renata Oliveira e Roberto Masi. A European Association of Women Band Conductors tem sede em Genebra, Suiça.


O objetivo da EAWBC não é “criar divisão”, mas sim criar uma união e continuar o caminho ascendente da credibilidade e da competência, “os únicos fatores que deviam importar”. “Tornar-se sócio desta associação não está dependente do género. Com a nossa existência, não queremos acentuar as diferenças”, diz a maestrina portuguesa que abraçou este projeto e que contam, a partir do início deste ano, começar com Webinars, Masterclasses, Vídeos Instrutivos, entre outras atividades. Tudo isto, pelo mesmo motivo, pela mesma força, pelo mesmo foco: a paixão pela direção.

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