Web Summit: o início de uma aventura online
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- 10 de dez. de 2020
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Com mais de 100 mil espetadores de 168 países, o primeiro dia da Web Summit totalmente online ultrapassou todas as previsões feitas pelo CEO e fundador, Paddy Cosgrave.

Com 104 328 pessoas de todo o mundo, o primeiro dia do evento totalmente online foi um sucesso. Com Filomena Cautela, apresentadora da RTP, a ser a primeira pessoa a aparecer no ecrã para dar as boas-vindas às 6 mil pessoas que já esperavam pelas primeiras imagens do evento, deu lugar a António Costa e Fernando Medina, para reforçarem a ideia que Portugal quer cada vez mais se afirmar como um marco da inovação.
O primeiro-ministro começou o evento dizendo que "É certamente o ano em que juntamos esforços para o mundo pós-pandémico". Acrescentou, ainda que os participantes durante os próximos três dias "vão ter acesso a líderes, empreendedores, e descobrir o nosso ecossistema vibrante". Reforçou a ideia que não há nada mais poderoso que milhares de criadores e políticos a discutir novas ideias para o futuro e que durante este ano Portugal "também saltou para a primeira liga da inovação”, fazendo referência ao Plano para a transição digital lançado, no início deste ano, pelo Governo.
Depois do primeiro-ministro, foi a vez do presidente da câmara de Lisboa sublinhar que o mais importante é que a conferência se realize “Não estamos juntos mas o mais importante é que o Web Summit está on“. De recordar que, o ano passado, o evento trouxe um retorno económico ao país na ordem dos 300 milhões de euros.
A tecnologia em crescendo em plena pandemia
Depois das boas-vindas por parte dos hosts do evento, foi a vez da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falar sobre a tecnologia, nomeadamente numa altura tão atípica como esta e os desafios do continente europeu no campo tecnológico. Sublinhou que, com a criação de vacinas num curto período de tempo que "A tecnologia salva vidas". Apesar dos impactos económicos do Covid-19, as empresas tecnológicas europeias apresentaram um crescimento significativo em 2020.
A presidente referiu ainda que "os valores que partilhamos no mundo offline sejam os mesmos no online. O que é ilegal offline deve ser também ilegal online", fazendo alusão a discursos de ódio na internet. "Estamos a criar um conjunto de regras para todos os negócios digitais, de Lisboa à Lapónia".
Com a tecnologia a crescer de ano para ano, foi em 2020 que aconteceu um dos maiores booms dada a necessidade de teletrabalho para uma grande maioria da população. Cal Henderson, cofundador do Slack, afirmou que esta transformação muda a forma como olhamos para o trabalho "significativamente para sempre". Com o teletrabalho as interações pessoais foram-se perdendo, mas foi uma das coisas que a empresa teve em conta "há mais mensagens enviadas, mais uso das plataformas, o número de minutos online aumentou". A Slack, uma das principais ferramentas de trabalho remoto em todo o mundo com milhões de utilizadores, foi vendida esta semana por uma quantia superior a 27 mil milhões de dólares.
Os desafios da música durante a pandemia
Para falar sobre a música, o cantor Liam Payne participou com Marian Dicus, vice-presidente no Spotify. Com o assunto a recair essencialmente sobre os desafios para o mundo da música que a pandemia tem vindo a trazer, o cantor referiu que "é importante dar apenas mensagens educativas. Todos sofremos com a desinformação, especialmente na internet". Além disso, afirmou que a tecnologia nos uniu mais do que nunca.
Marian Dicus, por sua vez, explicou que o Spotify tem feito esforços para potenciar uma maior interação entre artistas e fãs através da plataforma "Temos estado a encorajar os artistas para que continuem a lançar música. As pessoas querem inspiração dos artistas que adoram".

Também David Guetta, DJ francês falou sobre o processo de criar música ao estar confinado em casa. O artista que conta com inúmeros sucessos ao longos dos anos, quebrou o recorde de livestream mais visto no Facebook durante o período de isolamento, onde arrecadou mais de 1,5 milhões de dólares para ajudar na luta contra o Covid-19.
Apesar do recorde, confessa que foi complicado decidir o que fazer em plena pandemia "Como é que se faz música eletrónica quando os DJs não podem tocar?". Disse, também, que acabou por aproveitar para fazer músicas todos os dias e aprender um bocado mais sobre a sua profissão.
Os problemas que o jornalismo moderno enfrenta
Também o jornalismo sofreu inúmeras alterações com o avanço da tecnologia, sobretudo na rapidez obrigatória de dar notícias. Com Norman Pearlstine, editor executivo do LA Times, Neil Brown, presidente do Poynter Institute e Connie Guglielmo, editora do CNET no painel, discutiu-se o futuro das notícias.
Com a rapidez a ser impingida nas redações, a produção dos conteúdos também sofreu alterações. Connie Guglielmo, que trabalho no antes e no depois da revolução tecnológica, sente falta do tempo em que existia para preparar histórias, pensar no conteúdo e tentar colocar a melhor peça disponível para os leitores. No entanto, hoje em dia "é tudo mais rápido" – "gostava de ter mais tempo para reportar mas esse já não é o mundo em que vivemos".

Segundo o painel, um dos principais desafios do jornalismo da era moderna é o financiamento para produção de conteúdos, especialmente numa época em que a verdade é mais importante que nunca devido à existência das fake news "Estamos numa ‘guerra’ com a tecnologia sobre o jornalismo que deve prestar um serviço público. Esse jornalismo custa dinheiro".
Neil Brown refere, também, que daqui a 30 anos o jornalismo vai continuar a ser parte preponderante da sociedade, mas o "novo jornalista" tem de se adaptar encontrando novas formas de contar histórias. O americano considera que "se contarmos as historias bem, as pessoas vão encontrar novos motivos para querer ler e vamos encontrar novas formas de financiar estes conteúdos", ligando esta questão à da necessidade de maiores fundos para a sobrevivência do jornalismo.
As “fake news” e a "importância" das redes sociais
No segundo dia da Web Summit, as discussões sobre o estado atual do jornalismo continuaram, com um foco principal nos novos meios de transmissão da notícia. No debate entre os jornalistas Adrienne LaFrance (Editora da revista The Atlantic) e Matthew Kaminski (Editor Chefe da revista Politico).

Adrienne LaFrance diz que “temos canais online em que não interessa que tipo de má informação queremos colocar lá, seja sobre vacinas ou fraude eleitoral”, lamentando a falta de crença das pessoas "na ciência e nas instituições". A notoriedade que o Facebook ganhou nos últimos anos foi outra das temáticas abordadas por Adrienne LaFrance, considerando esse fator muito preocupante e que é necessário uma reavaliação da busca de informação quer pelos jornalistas, quer pelos cidadãos.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Matthew Kaminski afirma que "qualquer pessoa com Internet pode ser um editor de notícias", com um poder de alcance a uma escala global. Isto traz imensos problemas no controlo da informação credível e permite a disseminação em massa da desinformação.
O jornalista americano defende um retorno aos "princípios base" do jornalismo, de forma a combater o mundo atual "muito ruidoso", notando que a facilidade na transmissão da informação e o imediatismo que a sociedade se habituou não permite às pessoas "parar para ver o que os jornalistas podem fazer".
Ambientalismo vs Capitalismo

A discussão sobre os recursos naturais da Terra também foi um dos destaques do segundo dia desta Web Summit "Online", tendo como vozes díspares Ana Salcedo (co-fundadora da Zero Waste Lab) e Bill Gross (CEO da Heliogen).
A temática abordada durante uma mesa aberta virtual, o tema abordado foi " como um futuro de zero desperdício pode-se tornar acessível". Ana Salcedo defende que, apesar da existência de muitas práticas que aparentam ser sustentáveis, essas não devem ser as únicas medidas.
Para a co-fundadora da Zero Waste Lab, a solução passa por uma economia mais comunitária, reforçando a ideia de que o consumo excessivo deve ser travado. "O ensino é fundamental", diz Ana Salcedo, procurando passar a mensagem de que é necessária uma consciencialização mais aprofundada sobre esta temática nas escolas.
Já Bill Gross, empresário norte-americano, olha para o Capitalismo como uma solução para a crise climática. A combinação entre o desenvolvimento tecnólogico e o Capitalismo são as bases defendidas pelo CEO da Heliogen no combate à falta de recursos naturais.
Com o crescente desenvolvimento tecnológico, cada vez mais investidores "apostam nas energias renováveis, não pelos valores morais, mas sim porque os retornos financeiros estão a ganhar uma expressão crescente", diz Bill Gross.
A mulher no mundo da tecnologia

No terceiro e último dia da Web Summit em Lisboa, as questões sociais foram o foco principal dos oradores, sempre com a tecnologia como elemento base de todo o congresso. Os desafios das mulheres na área da tecnologia foi uma das temáticas abordadas.
Kira Komshilova, engenheira filandesa e líder da equipa de desenvolvimento de suporte t´écnico da Huawei nos países do Norte da Europa, trabalha exclusivamente com homens e divulgou dados estatísticos da UNESCO ilustrativos da presença minoritária da mulher no mercado de trabalho.
"É necessário mudar a mentalidade da sociedade", diz Kira Komshilova, defendendo que os pais são os principais culpados por esta desigualdade no mercado de trabalho e realça também a importância que a comunicação social tem no combate a esta problemática.
O mundo das celebridades
A Web Summit está também repleta de figuras muito conhecidas. Desde atletas como Serena Williams e Ricardo Quaresma, a atores como Kevin Hart e Jessica Alba, muitos utilizam esta plataforma como meio de promoção dos seus novos projetos ou de alguma marca.
Neste último dia, o destaque vai para o ator americano Chris Evans, conhecido pela sua interpretação do super-herói "Captain America" da Marvel. É um dos criadores da plataforma A Starting Point, juntamente com Joe Kiani e Mark Kassen que tem como propósito promover a participação cívica e o debate de opiniões divergentes.
Ao inicio, "as pessoas achavam que era tudo uma piada", diz Chris Evans, mas o ator levou o projeto à frente, relevando que se sentia falta de uma plataforma que permitisse dar tempo de antena a temas e opiniões distintas, referindo a falta de um "meio termo" na sociedade atual.
Como objetivo principal, Chris Evans pretende levar este projeto "às escolas, trazendo a tecnologia, as oportunidades e possibilidades aos estudantes", com o objetivo de aumentar o seu conhecimento, capacidade de inovação e pensamento crítico
"A Web Summit digital é tão importante, porque o mundo está a mudar"
Foi com esta frase que Marcelo Rebelo de Sousa marcou o encerramento da edição de 2020 da Web Summit. O Presidente da República realçou a importância de todos os temas discutidos nesta plataforma e trouxe uma mensagem de união para todos os participantes, referindo que "a pandemia mostou que nenhum país, sozinho, consegue lidar com tamanho problema".
Relativamente a 2021, a Web Summit será realizada com moldes diferentes. As ruas de Lisboa serão, de novo, o epicentro do maior evento tecnológico do mundo, mas num modelo híbrido. A organização espera cerca de 70 mil pessoas na capital portuguesa, à qual se podem juntar 80 mil participantes online, referiu Paddy Cosgrove, criador do Web Summit.
A partir de 2022, a organização liderada por Cosgrove planeia expandir a marca Web Summit, criando para esse efeito uma edição em Tóquio, dois meses antes da data em Portugal, alterando assim o nome do evento em Portugal para "Web Summit Lisbon". O objetivo, segundo Paddy Cosgrove, é levar o evento a diversos países e continuar assim a expansão do universo tecnológico por todo o planeta.
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